10 mitos sobre alimentos transgênicos

O que você realmente sabe sobre os alimentos transgênicos? Existe uma grande mística em torno dos alimentos geneticamente modificados, mas o que realmente é verdade e o que é mito?

No final deste ano, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos pode aprovar a comercialização das primeiras maçãs geneticamente modificadas. Embora ainda leve algo em torno de dois anos para que elas cheguem de fato aos supermercados e à mesa do consumidor final, um outro comerciante que ouviu dessa intenção já se agilizou para rotular suas maçãs como “não transgênicas”.

Essa “defesa”, antes mesmo do ataque, só deixa ainda mais evidente o quão controverso esses alimentos são, e quão pouco sabemos e falamos sobre eles. Durante a última década, a controvérsia em torno dos transgênicos inclusive provocou tumultos em todo o mundo e o vandalismo de culturas nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Austrália e nas Filipinas. Em maio, o governador de Vermont, nos Estados Unidos, assinou uma lei que provavelmente irá torná-lo o primeiro estado dos EUA a exigir rótulos de ingredientes geneticamente modificados; mais de 50 nações já os tem como obrigatórios. O argumento do senador de Vermont, David Zuckerman, é que agora, “como consumidores, nós somos cobaias, porque nós realmente não entendemos” o que são os transgênicos.

Então está na hora de entendermos, não?

O que são os transgênicos, afinal?

A verdade é que os alimentos transgênicos têm sido estudados intensamente, mas parecem muito incompreendidos pela sociedade em geral. As maçãs de que falamos foram modificadas com genes de Granny Smith e Golden Delicious (variedades de maçãs) para suprimir a enzima que causa o escurecimento da fruta.

Os biólogos também introduziram genes para fazer as macieiras mais resistentes a herbicidas. Essas características já dominam os mais de 430 milhões de hectares de culturas de alimentos geneticamente modificados que foram plantadas em todo o mundo. Os cientistas estão trabalhando em variedades que sobrevivem a outras doenças, secas e inundações também.

Então, o que, exatamente, é que os consumidores têm a temer? Resposta: muito pouco, ou quase nada. Vamos a alguns mitos que muita gente acredita, para explicar porque eles não representam o perigo que todo mundo acha:

1. Dizem que a engenharia genética é uma tecnologia radical

Os seres humanos têm manipulado os genes de alimentos há muitos milênios por reprodução seletiva, plantas com características desejáveis. Sim: praticamente todas as nossas culturas alimentares foram geneticamente modificadas de alguma forma. Nesse sentido, os transgênicos não são radicais em tudo, ou pelo menos não tanto quanto parecem. Sua técnica, em essência, não difere drasticamente dessa busca tradicional por vegetais melhores.

Veja como funciona a produção de transgênicos: os cientistas extraem um pouco de DNA de um organismo, modificam ou fazem cópias dele, e então o incorporam no genoma da mesma espécie ou de uma outra. Eles fazem isso ou por meio de bactérias para entregar o novo material genético, ou atirando pequenas pelotas de metal revestidas de DNA em células de plantas, meio como uma arma carregada de genes. Enquanto os cientistas não podem controlar exatamente onde esse DNA que vem de fora vai parar, eles podem repetir a experiência até finalmente obter um genoma com a informação certa no lugar certo – fazendo assim o alimento mais perfeito possível.

Esse processo permite uma maior precisão para a agricultura. Peggy G. Lemaux, um biólogo da Universidade da Califórnia (EUA), explica que “com os transgênicos, sabemos qual é a informação genética que estamos usando, sabemos para onde vai no genoma, e podemos ver se ele está perto de um alérgeno ou uma toxina. E isso não é verdade quando você cruza diferentes variedades no processo tradicional de plantação. Sem a ajuda da genética, o processo se transforma em uma loteria.

2. Dizem que os transgênicos são muito novos para sabermos se são de fato perigosos

Depende de como você define “novo”. As plantas geneticamente modificadas apareceram pela primeira vez em laboratório há 30 anos e se tornaram um produto comercial em 1994. Desde então, mais de 1.700 estudos de segurança a respeito desses alimentos já foram publicados, incluindo cinco longos relatórios do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA, que incidem sobre a saúde humana e a saúde do meio ambiente também. O consenso científico é que os transgênicos existentes não são mais ou menos arriscados do que as culturas convencionais. São apenas diferentes.

3. Dizem que os agricultores não podem replantar as sementes geneticamente modificadas

Os chamados exterminadores de genes, que podem tornar as sementes estéreis, nunca de fato saíram do escritório de patentes na década de 1990. As empresas de sementes exigem que os agricultores assinem acordos que proíbem a replantação a fim de garantir as vendas anuais, mas Kent Bradford, um cientista botânico na Universidade da Califórnia, garante que os produtores comerciais de grande porte normalmente não guardam sementes de qualquer maneira. O milho é um híbrido de duas linhas da mesma espécie, de modo que suas sementes não passam traços para a próxima geração. Sementes de algodão e de soja poderiam ser salvas, mas a maioria dos agricultores não se incomoda com isso. O motivo, segundo Bradford, é bem simples: a qualidade da semente deteriora, o que faz com que essa prática não seja rentável.

4. Dizem que nós simplesmente não precisamos de alimentos transgênicos, porque existem outros tipos de alimentos

Ok. Os transgênicos provavelmente não vão resolver sozinhos TODOS os problemas alimentares do mundo. Mas com as mudanças climáticas e o crescimento da população ameaçando o abastecimento de alimentos, culturas geneticamente modificadas poderiam aumentar significativamente a produção alimentar. “Os transgênicos são apenas uma ferramenta para garantir a segurança alimentar do planeta quando tivermos mais dois bilhões de habitantes até 2050”, diz Pedro Sanchez, diretor de Agricultura e Alimentação da Central de Segurança do Instituto da Terra da Universidade Columbia (EUA). Ele reforça que os transgênicos não são a única resposta, mas com certeza são um apoio essencial que não pode ser ignorado.

5. Dizem que os transgênicos causam alergias, câncer e outros problemas de saúde

Muitas pessoas se preocupam que a engenharia genética introduza proteínas perigosas, especialmente alérgenos e toxinas, na cadeia alimentar. É uma preocupação razoável porque, teoricamente, é possível que um novo gene possa expressar uma proteína que provoque uma resposta imune. É por isso que as empresas de biotecnologia consultam o departamento de alimentos dos governos sobre potenciais alimentos transgênicos e realizam uma extensa bateria de testes sobre sua alergia e toxicidade. Se o produto não for seguro, o governo pode simplesmente proibi-lo de ser comercializado.

6. Dizem que todas as pesquisas sobre os transgênicos foram financiadas pela Big Ag

Vamos começar do começo. A “Big Ag” é um complexo de 6 grandes empresas que são as responsáveis pela produção de 3/4 dos pesticidas utilizados em todo o mundo. São elas: Monsanto, Syngenta, Dow AgroSciences, DuPont, Bayer e BASF. As 5 primeiras dessa lista também vendem mais da metade das sementes utilizadas no mundo todo por agricultores – o que naturalmente inclui uma leva de sementes geneticamente modificadas. Com toda essa abrangência – e interesse direto na questão dos transgênicos – é normal que as teorias da conspiração acreditem que o grupo financie as pesquisas para esconder uma verdade obscura e superpolêmica.

Mas isso simplesmente não é verdade. Durante a última década, centenas de pesquisadores independentes publicaram estudos de segurança e revisão de levas e mais levas de alimentos transgênicos. Pelo menos uma dúzia de grupos médicos e científicos em todo o mundo, incluindo a Organização Mundial de Saúde e a Associação Americana para o Avanço da Ciência, afirmaram que os alimentos transgênicos atualmente aprovados para o mercado são totalmente seguros.

7. Dizem que culturas geneticamente modificadas exigem que os agricultores façam uso excessivo de pesticidas e herbicidas

Essa afirmação requer um pouco de análise. Dois transgênicos relevantes dominam o mercado atualmente. O primeiro permite que as culturas expressem uma proteína a partir da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que é tóxica para determinados insetos. Esse também é o ingrediente ativo em pesticidas utilizados pelos agricultores orgânicos. E, pasme: os alimentos cultivados com Bt têm exigido um uso drasticamente reduzido de inseticidas químicos em algumas regiões, segundo Bruce Tabashnik, entomologista da Universidade do Arizona (EUA).

O segundo permite que produção tolere o herbicida glifosato, para que os agricultores possam pulverizar campos inteiros e ainda matar apenas as ervas daninhas. O uso do glifosato tem subido nos EUA uma vez que estes transgênicos foram introduzidos em 1996. Mas o glifosato é um dos mais leves herbicidas disponíveis, com uma toxicidade 25 vezes menor do que a cafeína, por exemplo. Seu uso tem diminuído a dependência de alternativas mais tóxicas, como a atrazina.

8. Dizem que os transgênicos criam superinsetos e superervas daninhas

Se os agricultores usam apenas e confiam cegamente no Bt ou no glifosato, então a resistência a pesticidas é inevitável, segundo Tabashnik. Isso é análogo a antibióticos, que criam bactérias mais resistentes a eles com seu uso excessivo. É um problema crescente, que tem uma solução: a prática de manejo integrado de pragas, que inclui a rotação entre culturas. O mesmo vale para qualquer tipo de agricultura, não só a transgênica.

9. Dizem que os transgênicos prejudicam espécies de insetos benéficos

Isso foi em parte desmentido. Os inseticidas Bt se anexam a proteínas encontradas nos intestinos de alguns insetos, matando espécies selecionadas. Para a maioria dos insetos, um campo de culturas Bt é mais seguro do que um pulverizado com um inseticida que mata indiscriminadamente.

Mas as borboletas monarcas produzem as mesmas proteínas como uma das pragas-alvo da Bt, e um experimento de laboratório feito em 1999 na Universidade Cornell (EUA) mostrou que alimentar larvas com serralha revestida em pólen do milho Bt poderia matá-las. Cinco estudos publicados em 2001, no entanto, descobriram que as monarcas não estão expostas a níveis tóxicos de pólen Bt em estado selvagem. Em 2012, um estudo realizado pelas Universidades de Iowa e de Minnesota sugeriu que glifosato resistente a transgênicos é o responsável pelo recente declínio populacional monárquico. O herbicida da serralha (única fonte de alimentos das larvas) mata dentro da cultura e nas imediações onde é aplicado.

10. Dizem que genes modificados se espalham para outras culturas e plantas silvestres, derrubando o ecossistema

A primeira parte certamente poderia ser verdade: plantas trocam material genético o tempo todo por meio de pólen, que carrega seu DNA – incluindo quaisquer possíveis trechos geneticamente modificados. Mas, de acordo com Wayne Parrott, geneticista na Universidade de Georgia (EUA), o risco para fazendas vizinhas é relativamente baixo. Para começar, é possível reduzir a chance de polinização cruzada pelo escalonamento do calendário de plantio, de modo que os campos polinizam durante diferentes intervalos de tempo.

Agricultores que trabalham com a cultura de transgênicos adjacente a campos orgânicos já fazem isso. E se algum pólen transgêncio florescer em um campo orgânico, não vai necessariamente anular o estatuto orgânico. Mesmo os alimentos que carregam o rótulo de não transgênicos podem ser 0,5% transgênicos em peso seco.

Viu só? Os alimentos transgêncos não são os monstros que muitos acreditam que são. Se você tem alguma informação legal para compartilhar sobre esse assunto, ou completar o que falamos nesse artigo, fique à vontade para falar nos comentários!

Fonte: http://hypescience.com/alimentos-transgenicos-mitos/

Post anterior
Lagomorfos x Roedores
Próximo post
Vitamina C (Ácido Ascórbico)
Menu